terça-feira, 25 de março de 2008

"Pula a cerca" ou "Cavalo Rufião"

Sábias lições de Rubem Fonseca em E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto.

"Muitas vezes precisavam cruzar uma égua de boa linhagem com um garanhão também com bom pedigree, mas o problema era que o garanhão de ascendência nobre não despertava o desejo da égua. Ou tinha a agenda cheia e não podia, por qualquer motivo, perder tempo com preliminares. Então colocávamos perto da égua um tipo de cavalo conhecido como Rufião, um garanhão do qual não se exigia nem perfeição física nem pureza de sangue que atestasse sua ancestralidade ilustre, mas sim a capacidade de despertar um desejo sexual intenso na égua.

O garanhão plebeu e a nobre égua ficavam separados por uma cerca, para que nenhum contato, digamos, morgamático, ocorresse entre eles. Logo que o Rufião estimulava o cio da égua, colocava-se nela uma peia, uma espécie de arreop de charrete do qual saíam duas grossas cordas que eram fixadas em pulseiras presas nos cascos da égua, para que assim subjugada não pudesse rejeitar e escoicear o garanhão de luxo, quando ele fosse fazer a cobertura. Quase sempre o aristocrata era ajudado pelos peões na introdução do seu membro no corpo da égua.

Acontece que em muitas ocasiões o Rufião, que despertava o cio na égua porque fazia a fêmea sentir por ele a mesma lubricidade obsessiva que sentia por ela, o Rufião (apodo injusto para animal de tanto caráter), impelido pela sua lascívia arrebatadora, pulava a cerca que os separava e os dois animais, contra todos e sem a ajuda de ninguém, satisfaziam a paixão proibida que os consumia. Vem daí a expressão "pular a cerca", que você deve conhecer, mais comum no interior do país, que indica um homem ou mulher casada que se engaja em atividade extraconjugal.

Dessa história eu extraí os seguintes ensinamentos. O primeiro: para seduzir e comer a mulher que você ama é preciso desejá-la como um garanhão preso na cerca, e se ela não pular a cerca antes, as mulheres muitas vezes pulam a cerca antes, cabe você a pular, arruinar-se por ela, levar coices por ela, bater a cabeça na parede por ela. Crie o efeito ricochete"

domingo, 23 de março de 2008

Missão impossível I


A Grande Arte

Nos últimos 2 anos, apenas 3 obras de Rubem Fonseca: Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos (1988), Ela e outras mulheres (2006) e A Grande Arte (1983)

Se tratando de Rubem Fonseca, sou apenas um neófito, afinal, o escritor tem mais de 26 obras escritas desde 1963.
O que mais me impressiona na literatura de Fonseca é capacidade do autor de te fazer abstrair do mundo real. Em Vastas Emoções, toda a trama envolvendo o último manuscrito de Bábel conduzida por uma trama envolvendo diamantes e carnaval; em Ela, uma série de contos que cura qualquer dor de corno; e pra finalizar, em A Grande Arte, outra trama que te seqüestra da realidade ao menor descuido.

No auge dos meus 25 anos, e com menos de 5 anos de vida jornalística, o desejo de tentar entrevistar uma figura como Rubem Fonseca, se torna quase uma obsessão. Por isso o título do post, Missão Impossível I. O homem é recluso, não dá entrevistas nem mesmo aos seus amigos íntimos, como Jô Soares.

Mas a pequena possibilidade de tomar um café, ou trocar cinco minutos de prosa com tamanha monstruosidade literária, já seria algo memorável.

Antes de estabelecer tamanho desafio como meta de vida, vou me contentar em terminar de ler a obra dele, agora só faltam uns 23 livros. Os próximos da fila são Agosto (1990) e Do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (1997).






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